sábado, 31 de março de 2012

Vem aí o FILE Rio 2012: instalações, maquinema, mostra de mídia arte!

O FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – é uma iniciativa brasileira conectada à rede das importantes produções mundiais do gênero. A edição FILE Rio 2012 é uma exposição que apresenta projetos inéditos em diferentes áreas das artes eletrônicas: instalações, aplicativos para tablets, machinimas, mídia arte e arte sonora. Entre os destaques, a instalação ADA (escultura cinética interativa analógica) – Karina Smigla-Bobinski (Polônia e Alemanha), que permite ao visitante interagir com um globo flutuando livremente na sala, com pontas de carvão que deixam marcas nas paredes, teto e piso.


Instalações

Ambientar um espaço é um trabalho nada simples. Mais complexo ainda é criar um meio ambiente que reage às ações dos indivíduos que povoam o lugar. O artista que cria instalações interativas formula uma natureza com dinâmica própria e original, reconfigurando nossos hábitos de movimentação no espaço, de ouvir o mundo, de presenciar a arquitetura, de nos relacionarmos com outros indivíduos.


Participantes


Ben Jack – Elucidating Feedback [Nova Zelândia]




Quanto mais olhamos, mais vemos; quanto mais vemos, mais olhamos. “Elucidating Feedback” é uma instalação controlada mentalmente sobre a criatividade inerente ao ato de observar. Quanto mais se presta atenção à instalação, mais ordem é refletida no vídeo e no áudio. A ideia é que criamos os detalhes mais precisos de nossa experiência através do ato de ser atentos. Quanto mais observamos nosso ambiente, mais descobrimos, e o resultado desse processo ativo é a criação dos ricos detalhes de nossa experiência. O projeto usa realimentação neurológica obtida pela interação entre o usuário e o dispositivo de BCI (interface computador-mente). O mindset (o dispositivo de BCI) lê suas ondas cerebrais e isso altera como a instalação cria forma a partir da estática. Quanto mais se presta atenção, mais padrões se formam; Quanto menos se presta atenção, o padrão volta à estática. A intenção é formar um loop de realimentação entre a atenção do usuário e o objeto de sua atenção (os padrões projetados). O aspecto audiovisual da instalação produz padrão, ordem e detalhe em proporção direta à atenção dada pelo usuário em cada momento. Se o usuário estiver com a mente em estado de divagação e sem se concentrar em coisa alguma, os padrões ficam estáticos fazendo a instalação voltar a um estado de estase. Assim que o usuário começa a se concentrar de novo, a estática lentamente retoma um padrão. As imagens produzidas pelo programa são padrões emergentes formados por interações simples entre milhares de partículas. Há duas categorias de padrão envolvidas: uma consiste em um conjunto de padrões predefinidos e a outra é uma série de padrões formados unicamente através do sistema de interações de partículas. A combinação desses sistemas possibilita paisagens mutáveis infinitamente complexas que o usuário pode explorar como se fossem uma representação física de seu próprio estado mental, dando a vívida impressão de que aquilo que é mostrado é criado pelo usuário, ou seja, uma criação de sua atenção.


Bruno Zamborlin – Mogees [Reino Unido / França]




Bruno Zamborlin apresenta “Mogees”, um sistema de microfone por contato que aumenta o som de objetos. Com este sistema, as propriedades acústicas de objetos comuns do cotidiano são analisadas em tempo real e aumentadas a fim de interagir com eles como dispositivos musicais.


Hye Yeon Nam – Please Smile [Estados Unidos]




“Please smile” é uma obra envolvendo cinco braços robóticos em forma de esqueleto que mudam seus gestos conforme as expressões faciais do espectador. Ela é composta por um microcontrolador, uma câmera, um computador, cinco fontes de energia externas e cinco braços de plástico, cada um com quatro motores. Incorpora elementos de engenharia mecânica e percepção visual computadorizada para criar expressão artística com um robô. O público interage de três maneiras com “Please smile”. Quando ninguém é captado pela câmera, os cinco braços robóticos ficam na posição padrão, ou seja, com os cotovelos e os punhos dobrados perto da parede. Quando uma pessoa entra no raio da câmera, os braços apontam a pessoa e seguem seus movimentos. Quando alguém sorri diante da câmera, os cinco braços acenam com as mãos. Através de obras de arte como “Please smile”, eu gostaria de estimular o público a ter comportamentos positivos.


Karina Smigla-Bobinski – ADA [Polônia / Alemanha]




Semelhante à “Méta-Matics” de Tinguely, “ADA” é uma obra de arte com alma. Ela se interpreta. Em Tinguely, basta ser uma entidade mecânica lutando inconscientemente. Ele levou a coisa de maneira bem humorada: a máquina produz apenas sua autodestruição industrial. Enquanto “ADA”, de Karina Smigla-Bobinski, é uma “criatura” pós-industrial, animada pelo visitante, uma escultura-artista que atua criativamente, uma obra de arte autoinformante, que se assemelha a um híbrido molecular, como da nanobiotecnologia. Ela desenvolve os mesmos híbridos rotativos de carbono-silício, ferramentas anãs, máquinas miniaturas capazes de gerar estruturas simples. “ADA” é muito maior, esteticamente muito mais complexa, uma máquina de fazer arte interativa. Cheia de hélio, flutuando livremente na sala, um globo transparente parecido com uma membrana, com pontas de carvão que deixam marcas nas paredes, teto e piso. Marcas que “ADA” produz de modo autônomo, embora movida pelo visitante. O globo obtém uma aura de vivacidade e seus traços de carvão preto, a aparência de um desenho. O globo colocado em ação fabrica uma composição de linhas e pontos que permanecem incalculáveis em sua intensidade, expressão, forma, por mais que o visitante tente controlar “ADA”, conduzi-la, domesticá-la. Qualquer coisa que ele tente, perceberá muito cedo que “ADA” é uma performer independente, marcando as paredes originalmente brancas com desenhos e signos. Surgem estruturas de textura cada vez mais complexa. É um movimento experimentado visualmente, que como um computador faz uma produção imprevisível depois da entrada de um comando. Não por acaso, “ADA” lembra Ada Lovelace, que no século 19, juntamente com Charles Babbage, desenvolveu o primeiro protótipo de computador. Babbage forneceu a máquina de computação preliminar, Lovelace o primeiro software. Uma simbiose de matemática com o legado romântico de seu pai, Lorde Byron, surgiu ali. Ada Lovelace tentou criar uma máquina que seria capaz de criar obras de arte como poesia, música ou imagens, como um artista. “ADA” de Karina Smigla-Bobinski se situa nessa mesma tradição, assim como na de Vannevar Bush, que construiu uma máquina Memex (Memory Index) em 1930 (“Queríamos que o memex se comportasse como a rede intricada de traços transportados pelas células do cérebro”), ou o tear de Jacquard, que para tecer flores e folhas precisava de um cartão perfurado; ou a “máquina analítica” de Babbage, que extraiu padrões algorítmicos. “ADA” surgiu no espírito atual da biotecnologia. Ela é uma máquina de performance vital, e seus padrões de linhas e pontos ficam cada vez mais complexos conforme o número de espectadores-atores aumenta. Deixando traços que nem a artista nem os visitantes são capazes de decifrar, para não falar na própria “ADA”. Ainda assim, o trabalho de “ADA” tem inconfundivelmente um potencial humano, porque o único método de decodificação disponível para esses signos e desenhos é a associação que nosso cérebro corresponde ao máximo quando dorme: a truculenta vivacidade de nossos sonhos.


Memo Akten – Body Paint [Turquia / Reino Unido]




“Body Paint” por Memo Akten é uma instalação interativa – um instrumento visual – que permite aos usuários pintar sobre uma tela virtual com o seu corpo, interpretando movimento, gestos e dança em composições evolutivas. Seu objetivo não é criar uma nova interface para a produção de quadros estáticos, e sim mais uma maneira natural de criar, dirigir e executar imagens em movimento em tempo real, com foco na experiência de interação. O que importa não é a pintura criada ao final, e sim a sensação provocada ao usar e reagir em tempo real com a sua própria criação, enquanto esta evolui. Nosso corpo é um recipiente para a expressão emocional. Quando falamos, nos movemos com o nosso corpo inteiro. O quanto mais animado ficamos, mais envolvido e apaixonado que somos com o que estamos dizendo, aumentando o entusiasmo. “Body Paint” se utiliza disso, do nosso instinto natural de expressar-nos com o movimento de corpo inteiro e dança, e combina com o nosso desejo subconsciente de criar – ainda mais, o nosso desejo de criar algo belo.



Raquel Kogan – XYZ [Brasil]



“XYZ” é uma instalação sonora-espacial-temporal que segue regras variáveis coletadas através de dados dos interatores: altura, peso e frequência cardíaca. Esses dados são transformados em sonoridades sobrepostas. No espaço, percebemos a variação dessas 3 coordenadas; mensuráveis e audíveis. Os 3 parâmetros são: timbre, altura e pulsação. A pulsação da música é determinada pela frequência cardíaca, o timbre de cada fragmento é determinado pela altura do visitante e a tonalidade pelo peso. Cada pessoa gera esses 3 dados, que serão a referência para criação de uma só sonoridade. Há um limite de 7 sobreposições de interatores (em um total de 7 caixas de som e um sub-woofer) que se somam em diferentes layers de sonoridades com duração de 30 segundos a 1 minuto cada; o oitavo faz a primeira sonoridade desaparecer e ser substituída, assim por diante. As coordenadas são captadas em tempo real em função dos dados obtidos dos visitantes na instalação. Um momento que depende de nossa existência para acontecer – nosso corpo se transforma em referência, retransmissor de dados; corpos independentes uns dos outros interligados simultaneamente e sonoramente: ser um e vários. “…é memória, mas não memória pessoal, exterior àquilo que ela retém, distinta de um passado cuja conservação ela garantiria; é uma memória interior à própria mudança, memória que prolonga o antes no depois e os impede de serem puros instantâneos que aparecem e desaparecem num presente que renasceria incessantemente. Uma melodia que ouvimos de olhos fechados, pensando apenas nela, está muito perto de coincidir com esse tempo que é a própria fluidez de nossa vida interior, mas ainda tem qualidades demais, determinação demais, e seria preciso começar por apagar a diferença entre os sons, e depois abolir as características distintas do próprio som, conservar ele apenas a continuação do que precede no que se segue e a transição ininterrupta, multiplicidade sem divisibilidade e sucessão sem separação, para encontrar por fim o tempo fundamental. Assim é a duração imediatamente percebida, sem a qual não teríamos nenhuma ideia do tempo.”
Rejane Cantoni & Leonardo Crescenti – Solo [Brasil]




Ao caminhar sobre este “Solo”, o peso do seu corpo gera efeitos semelhantes ao de uma pedra que cai sobre a superfície da água parada: as chapas se inclinam e como gangorras interconectadas provocam ondas que se propagam radialmente. O movimento do metal contra metal gera sons e a superfície metálica em movimento propaga reflexos de luz pelo ambiente. “Solo” recria de forma sólida a superfície da água num contraponto entre as matérias. O metal em movimento percebe-se líquido. Reage à presença de um ou vários interatores simultâneos e reproduz um jogo entre forças e equilíbrio. Por meio de uma seqüência de causalidades, cada placa propaga luz e som através da animação progressiva da superfície discretizada.
Reynold Reynolds – Six Easy Pieces [Alemanha]




O trabalho é baseado no livro “Six Easy Pieces: Essentials of physics explained by its most brilliant teacher” de Richard P. Feynman, e nos conceitos: “Cinema é a Sétima Arte.” – Ricciotto Canudo e “A música é o prazer que a mente humana experiencia em fazer conta sem perceber que está contando. – Gottfried Leibniz Reynold Reynolds desconstrói o filme como a síntese perfeita de arte e tecnologia e o processo de captura, gravação, trazendo-o de volta à vida. O trabalho conecta arte e ciência, enfocando o espaço e o tempo e romanticamente refere-se a uma época em que artistas e cientistas tinham preocupações semelhantes e eram muitas vezes uma mesma pessoa. Filosófica e cientificamente, o conceito de tempo tem sido amplamente discutido e investigado, mas a sua verdadeira natureza permanece ainda por resolver; provou-se mais misterioso e profundo do que a própria vida, mas onde o estudioso falhar, o artista ousa caminhar.
Yuri Suzuki – Beatvox [Reino Unido]




Bateria controlada por microfone. Reconhecido como um artista por seus projetos questionando a materialidade do som, Yuri Suzuki tem sua própria maneira de olhar a realidade aumentada. Para Berlim, ele está criando uma instalação que vai permitir que qualquer pessoa controle um conjunto de bateria com sua própria voz. Ele se aproveita dos princípios da realidade aumentada, interpretando-as no reino do som.

Maquinema



Com diferentes tempos de duração e realizados a partir de diferentes bases, os machinimas (maquinemas) desta edição desenvolvem narrativas convencionais e inusitadas, clipes musicais e paródias. Eles experimentam mundos oníricos ou abstratos, mesclam técnicas, compõem com projetos de performance, assim como interferem no código do próprio jogo ou se apropriam de erros. O FILE MAQUINEMA RIO 2012 busca, dessa forma, exibir trabalhos que representem a diversidade produzida nos últimos anos, vislumbrando também possíveis futuros.
Confira a lista de todos os participantes do Maquinema.

FILE Mídia Arte



A Mídia Arte mostra como “amolecer” a rigidez da funcionalidade tecnológica e criar um ambiente de criatividade e problemáticas artísticas.
Confira a lista de todos os participantes do FILE Mídia Arte.

FILE TABLET



O FILE RIO 2012 inaugura o FILE Tablet na cidade do Rio de Janeiro.
O FILE Tablet exibe aplicativos que propõem novas maneiras de interpretar o real como novos jogos de raciocínio. O que era apenas um livro digital vem revolucionando decisivamente a tecnologia móvel/móbile e o FILE acompanha esta revolução!
Confira a lista de todos os participantes do FILE TABLET.

Simposium Rio 2012

O FILE Symposium RIO 2012 acontece este ano no dia 10 de abril a partir das 14h30 e conta com a participação de artistas que exibem instalações interativas nesta edição do FILE RIO.
Os encontros acontecem no Oi Futuro em Flamengo e são acompanhados de tradução simultânea. Não é necessária prévia inscrição para participar, mas aconselha-se chegar 30 minutos antes do início das palestras.

Programação

14h30 Mesa-redonda: Arte Interativa
Participantes:
* Hye Yeon Nam [Estados Unidos]
* Yuri Suzuki [Reino Unido]
15h20 Mesa-redonda: Arte Sonora
Participantes:
* Bruno Zamborlin [Reino Unido e França]
* Raquel Kogan [Brasil]
* Alexandre Ribeiro de Sá [Brasil]
16h * Karina Smigla-Bobinski [Polônia e Alemanha]

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