Camille Claudel com 20 anos
por César
D.R.
Camille Claudel, jovem escultora talentosa de quem quase não se ouve falar.
Seu nome está diretamente ligado ao nome do escultor Auguste Rodin.
Foi protagonista de uma história de amor que teria sido bela
mas que teve para ela um triste fim.
Depois de ler a história de Camille não mais é possível olhar as esculturas de Rodin sem dela se lembrar e de sentir um profundo pesar pelo seu destino perverso.
O Romantismo, nascido em fins do Século 18, não foi um estilo, foi mais uma atitude existencial e uma reação ante a ditadura racionalista imposta pelo chamado Século das Luzes.Para os românticos, junto com o culto ao onipresente, se impõe os valores intrínsecos da subjetividade: a emoção, o sentimento e a imaginação.Ao festival industrialista de sua época, se opuseram o culto à natureza – e o culto aos antigos deuses – e perfilaram, involuntariamente a chamada consciência desventurada. Ser infeliz era ser digno. Somente um indigno podia ser feliz ante um mundo que avançava em busca da própria perdição.Nesse bloco de desventurados que se inclui a escultora Camille Claudel, irmã do poeta Paul Claudel, revelando a profundidade do romantismo sofrido, tanto em sua obra como em sua vida.De temperamento forte e determinada, lutou contra todos os preconceitos da sociedade dos fins do sec. XIX que nunca viria a aceita-la como escultora, e também contra sua mãe que nunca a apoiou.
Camille e Rodin no seu estúdio
Nascida em 1864, é mais conhecida por
sua vida atribulada que por seu trabalho.
Aos 19 anos, conhece Auguste
Rodin,
24 anos mais velho que ela, escultor já consagrado.
Camille era uma mulher muito bonita,
de olhos azul escuro, e de grande talento.
Para
Rodin, um escultor necessitado de notoriedade e grande sedutor,
isso não lhe
foi indiferente,
e tornou-se seu
mestre e amante.
Envolveu-se com Camille numa enorme paixão,
sem contudo abandonar Rose Beuret,
sua companheira e modelo desde os primeiros tempos, com quem tinha um filho e
com quem se viria a casar.
Em 1888,Camille passou a viver com Rodin numa casa a que chamariam o "retiro pagão".
Frequentavam lugares públicos e a sua vida tornou-se num escândalo.
Conviveu com a sociedade intelectual e artística da época, entre eles Claude Debussy.
Rodin vivia simultâneamente com Rose e Camille.E à promiscuidade amorosa, juntava-se a promiscuidade profissional.Era difícil saber quando a obra pertencia a um ou a outro; ou quando era que Rodin se apropriava do trabalho de Camille e o assinava como seu.
Camille escreveu em cartas que Rodin temia o seu talento e inteligência.
Camille viveu certa efêmera fama, graças ao apoio de Rodin, expondo em salões e participando de tertúlias em casa de Mallarmé e de Jules Renard, admiradores de seu trabalho.
Em 1892 Camille teve um abortamento que a deixou profundamente abalada e impotente para convencer Rodin a abandonar Rose, e casar-se com ela.
Decidiu afastar-se.Fez "Sakuntala",escultura inspirada no conto do poeta hindu Kalidassa.
Uma mulher grávida que procura o marido, que a não reconhecerá, por ela ter perdido a insígnia que a nomeava sua rainha e assim a toma como impostora. Sakuntala retira-se em desespero e uma chama em forma de mulher levanta-a e ambas desaparecem.
Sakuntala
Nesta época duas outras obras importantes são premiadas;
A Valsa e Clotho.
Clotho
e tem o poder de fiar a vida e cortá-la quando quiser.
A Valsa
É a sua fase mais produtiva.
Estuda a arte japonesa e são desta época as suas
melhores obras:
as "Bisbilhoteiras" e a "Onda"
A Onda
A Onda tem tido várias interpretações; mas a que parece mais ajustada à personalidade de Camille é a referência à luta
gigantesca da mulher contra os tabús, preconceitos e descriminações que ao longo
dos tempos tem travado, e que, como no caso de Camille, vive a ameaça e a
realidade de ser dominada e destruída.
Mas em todos os momentos existe sempre o dedo de Rodin; será sempre por seu intermédio que obtém encomendas, e será também através dele o reconhecimento das mesmas. Isso não agrada a Camille.
Mas em todos os momentos existe sempre o dedo de Rodin; será sempre por seu intermédio que obtém encomendas, e será também através dele o reconhecimento das mesmas. Isso não agrada a Camille.
Dana e A Verdade a sair do poço são outras obras da
sua autoria.
Em 1998 rompeu definitivamente com Rodin
depois de "A Idade Madura", ser recusada pela Exposição Universal de 1900.
Considerada a sua obra mais autobiográfica, Rodin não gostou de se ver tão explicitamente exposto nela e conseguiu a sua rejeição.
Camille, com 36 anos, convenceu-se que havia um complô de Rodin contra ela.
A verdade saindo do poço
Fechou-se no seu
atelier, onde se isolou, e repetia incessantemente,“o canalhado Rodin;”
frase ouvida pelos
vizinhos.
O meio artístico, dizia, passou a pertencer
ao "bando de Rodin" que a todos
seduz e
convence, contra ela.
As suas ideias e os seus desenhos eram roubados,
executados, tinham sucesso, mas não se falava no seu nome.
executados, tinham sucesso, mas não se falava no seu nome.
E dizia:
“Serei
perseguida por toda a minha vida pela vingança deste monstro, o
perseguidor Auguste Rodin"
Vivia miseravelmente, com uma pequena pensão enviada pelo Pai, e bebia em excesso, rodeada de gatos.
Faltava -lhe dinheiro para pagar
os materiais, para pagar aos modelos, para se vestir,
e o seu isolamento foi
sendo cada vez maior.
L'Age Mur--Hoje, no Museu d'Orsay
Diz-se também que, havia suspeitas,
de Rodin continuar a
intervir por ela,
assegurando-lhe novas encomendas; mas Camille recusa.
Prefere viver sozinha, no silêncio e na
escuridão.
A sua última escultura é de 1906.
Depois desse ano, destrói tudo o que esculpe.
Os moldes de gesso lança-os ao Sena ou enterra-os, e proíbe que vejam o que
faz.
No dia 10 de março de 1913,
uma semana após a morte do pai,
a pedido da
família,
que arranjou uma certidão médica com o diagnóstico de
delírio
paranóico,
Camille foi levada à força para um hospício.
Permaneceu no hospital,
abandonada pela família,
recusando voltar a esculpir,
até ao dia da sua morte, 30 anos depois .