terça-feira, 3 de abril de 2012

PRIMAVERA

Primavera

Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.
A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata,
essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a Primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar
por dentro da terra,
nesse mundo confidencial das raízes,
— e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer,
no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa,
como os palácios de Jeipur.
Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação.
Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares,
— e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes,
depois do branco e deserto inverno,
quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente,
e todos os olhos procuram pelo céu
o primeiro raio de sol.

Esta é uma Primavera diferente,
com as matas intactas,
as árvores cobertas de folhas,
 — e só os poetas, entre os humanos,
sabem que uma Deusa chega,
coroada de flores,
com vestidos bordados de flores,
com os braços carregados de flores,
e vem dançar neste mundo cálido,
de incessante luz.

Mas é certo que a Primavera chega.
É certo que a vida não se esquece,
e a terra maternalmente se enfeita
para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez,
os homens terão a Primavera que desejarem, no momento que quiserem,
independentes deste ritmo, desta ordem,
deste movimento do céu.
E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos,
— e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que,
outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta Primavera Natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos;
e a eufórbia se vai tornando pulquérrima,
em cada coroa vermelha que desdobra.
Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume.
E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas,
para ser lançado ao vento,
— por fidelidade à obscura semente,
ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a Primavera, dona da vida
— e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

Rossetti

                                  Rendezvous

                                      
Cowper
                                           Calbet
                                        De Morgan
Antoine Calbet French
Botticelli
                                     jose.royo


                                Welden Hawkins






 
 

 
 
 
 Susana Weingast
 
 
"O Beijo" de Gustav Klimt...
A PRIMAVERA, 1939.
Museu Calouste Gulbenkian.
 
Primavera: jovem com chapéu de palha, circa 1865
[retrato de Rose Beuret-Rodin, esposa do escultor]
Auguste Rodin (França 1840-1915)
Bronze

monetparasol21875
Senhora com parassol, 1875
[Retrato de Camille Doncieux Monet,
esposa do pintor]
Claude Monet (França 1840-1926)
Óleo sobre tela – 119 x 100 cm
National Gallery of Washington, EUA

Brennand : escultura italiana do século XIX

Primavera
Tamanho: 60×70cm
Técnica: monotipia em papel de arroz
utilizando tintas gráficas.
Fada Primavera



Portal da Primavera,escultura em granito com 4.5 de altura

Primavera, 2003, Sigmar Polke

Primavera, Laura Nerh
Susan Saladino


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores