quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CARMINA BURANA






MANUSCRITOS NO MOSTEIRO

Carmina Burana significa Canções de Benediktbeuern.

Em meio à secularização de 1803, um rolo de pergaminho com cerca

de duzentos poemas e canções medievais, foi encontrado na

Biblioteca da Antiga Abadia de Menediktbeuern, na Alta Baviera.


Havia poemas dos monges e dos eruditos viajantes em latim medieval;

versos no vernáculo do alemão da Alta Idade Média, e

pinceladas de frâncico.

O erudito de dialetos da Baviera, Johann Andreas Schmeller, editou a

coleção em 1847, sob o título de Carmina Burana.


Carl Orff, filho de uma antiga família de eruditos e militares de Munique,

ainda muito novo familiarizou-se com esse Códice de Poesia Medieval.

Ele arranjou alguns dos poemas em um “happening” –

as “Cantiones profane contoribus et choris cantandae

comitantibus instrumnetis atque imaginibus magics”-

de canções seculares para solistas e coros, acompanhados por

instrumentos de imagens mágicas.


A obra já é vista no sentido do teatro musical de Orff, como um lugar

de magia, da busca de cultos e símbolos.

Esta cantata cênica é emoldurada por um símbolo de antigüidade –

o conceito da roda-da-fortuna, em movimento perpétuo, trazendo

alternadamente sorte e azar.


Ela é uma parábola da vida humana, expostas a constantes transformações.

Assim sendo, a dedicatória coral à Deusa da Fortuna “O Fortuna, velut luna”,

tanto introduz como conclui as canções seculares.


Esse “Happening” simbólico sombreado por uma Sorte Obscura,

divide-se em três seções:


o Encontro do Homem com a Natureza, particularmente com o

Despertar da Natureza na Primavera, “Veris leta facies”,

e seu Encontro com os Dons da Natureza,


culminado com o do Vinho,“In Taberna” ;


e seu Encontro com o Amor, “Amor volat undique”, como espelhado em

“Cour d’amours” na velha Tradição Francesa ou Burgúndia –

uma forma de serviço cavalheiresco às damas e ao Amor.


A Invocação da Natureza – o objetivo da primeira seção – desemboca em campos verdes onde raparigas estão dançando e as pessoas cantando em vernáculo.


As cenas festivas de libação desenrolam-se entre desinibidos monges, para quem um cisne assado parece ser um antegozo do Shangri-la, e entre barulhentos eruditos viajantes que louvam o sentido impetuoso da vida na juventude.

Após muitos anos de experiência e deliberação, os Carmina Burana resultaram na primeira testemunha válida do estilo de Orff.


Eles caracterizam-se por seu ritmo fortemente penetrante, comprimido em

grandes ostinatos pelo som mágico da inovadora orquestração, e pela

brilhante claridade da harmonia diatônica.


Os recursos estilísticos utilizados são de espantosa simplicidade.


A forma básica é a canção estrófica com uma melodia diatônica, como é de hábito na música popular.


Ao invés da harmonia extensivamente cromática do romantismo tardio, temos melodias claramente definidas, que levam algumas vezes a uma errônea acusação de primitivismo.


As canções estróficas reportam-se a formas medievais como a litania, baseada em uma série mais ou menos variada de curvas melódicas, cada uma correspondendo a uma linha de verso, e à forma seqüencial, caracterizada por uma repetição progressiva de várias seqüências de melodias.


Os melodismos, particularmente nos recitativos, são reminiscências do

cantochão gregoriano. Onde temos passagens líricas, fortemente emocionais, como por exemplo nos dois solos, para soprano sobre textos latinos, e melodias mais ariosas, no sentido operístico.


A escritura coral é predominantemente declamatória.


Os grupos instrumentais individuais são comprimidos em amplas massas tratadas na forma coral; somente as peculiares madeiras são ouvidas em solo, particularmente nas duas danças em que antigos ritmos e árias alemãs são tratados no estilo peculiar de Orff.


A percussão, reforçada por pianos, acentua o élan da partitura.

A gama expressiva de Carmina Burana estende-se da terna Poesia do Amor e da Natureza, e da elegância burgúndia de uma “Cour d’amours”, ao entusiasmo agressivo (“In taberna”), efervescente joie de vivre,o solo de barítono

“Estuans interius”, e à força devastadora do coro da fortuna cercando o todo.


O Latim Medieval da Canção dos Viajantes Eruditos é penetrado pela antiga concepção de que a vida humana está submetida aos caprichos da Roda-da-Fortuna, e que a Natureza, o Amor, a Beleza, o Vinho e a Exuberância da Vida estão à mercê da eterna Lei da Mutabilidade.


O homem é visto sob uma luz dura, não sentimental; como um joguete de forças impenetráveis e misteriosas.


Esse ponto-de-vista é plenamente característico da

atitude anti-romântica da obra.








FORTUNA IMPERATRIX MUNDI

01. O Fortuna

02. Fortune plango vulnera

I. PRIMO VERE

03. Veris leta facies

04. Omnia sol temperat

05. Ecce gratum

UF DEM ANGER

06. Tanz

07. Floret silva nobilis

08. Chramer, gip die varwe mir

09. Reie

10.Were diu werlt alle min



II. IN TABERNA

11. Estuans interius

12. Olim lacus colueram

13. Ego sum abbas

14. In taberna quando sumus

III. COUR D'AMOURS

15. Amor volat undique

16. Dies, nox et omnia

17. Stetit puella

18. Circa mea pectora

19. Si puer cum puellula

20. Veni, veni, venias

21. In truitina

22. Tempus est iocundum

23. Dulcissime

BLANZIFLOR ET HELENA

24. Ave formosissima

FORTUNA IMPERATRIX MUNDI

25. O Fortuna









FORTUNA IMPERATRIX MUNDI


FORTUNA IMPERATRIZ DO MUNDO


01. O Fortuna

O Fortuna

velut luna

statu variabilis,

semper crescis

aut decrescis.

vita detestabilis,

nunc obdurat

et tunc curat;

ludo mentis aciem,

egestatem,

potestatem

dissolvit ut glaciem.

Sors immanis

et inanis,

rota tu volubilis,

status malus,

vana salus

semper dissolubilis,

obumbrata

et velata

michi quoque niteris;

nunc per ludum

dorsum nudum

fero tui sceleris.

Sors salutis

et virtutis

michi nunc contraria,

est affectus

et defectus

semper in angaria.

Hac in hora

sine mora

corde pulsum tangite;

quod per sortem

sternit fortem,

mecum omnes plangite!

01. Ó Fortuna

Ó Fortuna

és como a Lua

mutável,

sempre aumentas

e diminuis;

a detestável vida

ore escurece

e ora clareia

por brincadeira a mente;

miséria,

poder,

ela os funde como gelo.

Sorte monstruosa

e vazia,

tu – roda volúvel –

és má,

vã é a felicidade

sempre dissolúvel,

nebulosa

e velada

também a min contagias;

agora por brincadeira

o dorso nu

entrego à tua perversidade.

A sorte na saúde

e virtude

agora me é contrária.

e tira

mantendo sempre escravizado.

nesta hora

sem demora

tange a corda vibrante;

porque a sorte

abate o forte,

chorais todos comigo!

02. Fortune plango vulnera

Fortune plango vulnera

stillantibus ocellis

quod sua michi munera

subtrahit rebellis.

Verum est, quod legitur,

fronte capillata,

sed plerumque sequitur

Occasio calvata.

In Fortune solio

sederam elatus,

prosperitatis vario

flore coronatus;

quicquid enim florui

felix et beatus,

nunc a summo corrui

gloria privatus.

Fortune rota volvitur:

descendo minoratus;

alter in altum tollitur;

nimis exaltatus

rex sedet in vertice

caveat ruinam!

nam sub axe legimus

Hecubam reginam.

02. Choro as Feridas da Fortuna

Choro as feridas da fortuna

com os olhos rútilos;

pois que o que me deu

ela perversamente me toma.

O que se lê é verdade:

esta bela cabeleira,

quando se quer tomar,

calva se mostra

No trono da Fortuna

sentava-me no alto,

coroado por multicores

flores da prosperidade;

mas por mais prospero que eu tenha sido,

feliz e abençoado,

do pináculo agora despenquei,

privado da glória.

A roda da Fortuna girou:

desço aviltado;

um outro foi guindado ao alto;

desmensuradamente exaltado

o rei senta-se no vertice –

precavenha-se contra a ruína!

porque no eixo se lê

rainha Hécuba.







I. PRIMO VERE



I. PRIMAVERA

03. Veris leta facies

Veris leta facies

mundo propinatur,

hiemalis acies

victa iam fugatur,

in vestitu vario

Flora principatur,

nemorum dulcisono

que cantu celebratur. Ah!

Flore fusus gremio

Phebus novo more

risum dat, hac vario

iam stipate flore.

Zephyrus nectareo

spirans in odore.

Certatim pro bravio

curramus in amore. Ah!

Cytharizat cantico

dulcis Philomena,

flore rident vario

prata iam serena,

salit cetus avium

silve per amena,

chorus promit virgin

iam gaudia millena. Ah!

03. A alegre face da primavera

A alegre face da primavera

volta-se para o mundo,

o rigoroso inverno

já foge vencido.

Com sua colorida vestimenta

Flora preside,

docemente a floresta

em cantos a celebra. Ah!

Estendido no regaço de Flora

Febo mais um vez

sorri, agora coberto

de flores multicores.

Zéfiro respira

seu suave odor,

corramos a concorrer

ao prêmio do amor. Ah!

O doce rouxinol

faz soar sua lira,

já riem

as luminosas clareiras floridas,

saem os pássaros em revoada

dos bosques encantadores,

e o coro das donzelas

anuncia delícias mil. Ah!

04. Omnia sol temperat

Omnia sol temperat

purus et subtilis,

novo mundo reserat

faciem Aprilis,

ad amorem properat

animus herilis

et iocundis imperat

deus puerilis.

Rerum tanta novitas

in solemni vere

et veris auctoritas

jubet nos gaudere;

vias prebet solitas,

et in tuo vere

fides est et probitas

tuum retinere.

Ama me fideliter,

fidem meam noto:

de corde totaliter

et ex mente tota

sum presentialiter

absens in remota,

quisquis amat taliter,

volvitur in rota.

04. O sol a tudo esquenta

O sol a tudo esquenta

puro e suave,

novamente revela ao mundo

a face de Abril;

para o amor é impelida

a alma do homem

e jovial impera

o deus-menino.

Toda essa renovação

na gloriosa estação

e por ordem da primavera

leva-nos a rejubilar;

abre-te os caminhos conhecidos,

e em tua renovação

é justo e correto

que desfrutes do que é teu.

Ama-me fielmente!

Vê como sou fiel:

com todo o meu coração

e com toda a minha alma,

estou contigo

mesmo quando distante.

Quem quer que ame assim

gira a roda.

05. Ecce gratum

Ecce gratum

et optatum

Ver reducit gaudia,

purpuratum

floret pratum,

Sol serenat omnia.

Iamiam cedant tristia!

Estas redit,

nunc recedit

Hyemis sevitia. Ah!

Iam liquescit

et decrescit

grando, nix et cetera;

bruma fugit,

et iam sugit

Ver Estatis ubera;

illi mens est misera,

qui nec vivit,

nec lascivit

sub Estatis dextera.

Gloriantur

et letantur

in melle dulcedinis,

qui conantur,

ut utantur

premio Cupidinis:

simus jussu Cypridis

gloriantes

et letantes

pares esse Paridis. Ah!

05. Eis a cara primavera

Eis a cara

e desejada

primavera que traz de volta a alegria:

flores púrpuras

cobrem os prados,

o sol a tudo ilumina.

Já se dissipam as tristezas!

Retorna o verão,

agora fogem

os rigores do inverno. Ah!

Já se liqüefazem

e desaparecem

o gelo, neve, etc.

a bruma foge,

e a primavera suga

o seio do verão;

é de lamentar-se

aquele que não vive

nem se entrega

à doce lei do verão. Ah!

Que provem glória

felicidade

doce como o mel,

aqueles que ousam

aspirar

ao prêmio de Cupido;

sob o comando de Vênus

glorifiquemos

e rejubilemo-nos

a exemplo de Páris. Ah!






UF DEM ANGER




NO PRANDO

06. Tanz

06. Dança

07. Floret silva nobilis

Floret silva nobilis

floribus et foliis.

Ubi est antiquus

meus amicus? Ah!

Hinc equitavit!

Eia, quis me amabit? Ah!

Floret silva undique,

nah min gesellen ist mir we.

Gruonet der walt allenthalben

wa ist min geselle alse lange? Ah!

Der ist geriten hinnen,

o wi, wer sol mich minnen? Ah!

07. Cobre-se a nobre floresta

Cobre-se a nobre floresta

de flores e de folhas.

Onde está

meu antigo amor? Ah!

Ele correu cavalgou para longe!

Oh, quem irá me amar? Ah!

A floresta floresce em toda parte,

Estou ansiando por meu amor.

As florestas verdejam em toda parte,

Por que meu amado demora tanto? Ah!

Ele cavalgou para longe,

Oh, quem irá me amar? Ah!

08. Chramer, gip die varwe mir

Chramer, gip die varwe mir,

die min wengel roete,

damit ich die jungen man

an ir dank der minnenliebe noete.

Seht mich an

jungen man!

lat mich iu gevallen!

Minnet, tugentliche man,

minnecliche frouwen!

minne tuot iu hoch gemout

unde lat iuch in hohen eren schouwen

Seht mich an

jungen man!

lat mich iu gevallen!

Wol dir, werit, daz du bist

also freudenriche!

ich will dir sin undertan

durch din liebe immer sicherliche.

Seht mich an,

jungen man!

lat mich iu gevallen!

08. Mercador, dá-me as cores

Mercador, dá-me as cores,

para avermelhar minhas faces,

de modo que eu possa fazer os jovens

me amarem irresistivelmente.

Olhem para mim,

rapazes!

Deixem-me seduzi-los!

Bons homens, amem

as mulheres carentes de amor!

O amor enobrecerá seus espíritos.

e lhes trará honra

Olhem para mim,

rapazes!

Deixem-me seduzi-los!

Salve, mundo

tão rico de alegrias!

ser-te-ei obediente

pelos prazeres que me permites

Olhem para mim,

rapazes!

Deixem-me seduzi-los!

09. Reie

Swaz hie gat umbe,

daz sint alles megede,

die wellent an man

allen disen sumer gan! Ah! Sla!

Chume, chum, geselle min

ih enbite harte din,

ih enbite harte din,

chume, chum, geselle min.

Suzer rosenvarwer munt,

chum un mache mich gesunt

chum un mache mich gesunt,

suzer rosenvarwer munt

Swaz hie gat umbe,

daz sint alles megede,

die wellent an man

allen disen sumer gan! Ah! Sla!

09. Dança Circular

Aquelas que ali giram em roda,

são todas donzelas,

elas querem passar sem um homem

todo o verão. Ah! Sla!

Vem, vem, meu amor,

eu suspiro por ti,

eu suspiro por ti,

vem, vem, meu amor.

Doces lábios rosados,

venham e façam-me sadia

venham e façam-me sadia

doces lábios rosados

Aquelas que ali giram em roda,

são todas donzelas,

elas querem passar sem um homem

todo o verão. Ah! Sla!

10. Were diu werlt alle min

Were diu werlt alle min

von deme mere unze an den Rin

des wolt ih mih darben,

daz diu chunegin von Engellant

lege an minen armen. Hei!

10. Se todo o mundo fosse meu

Se todo o mundo fosse meu,

do mar até o Reno,

eu a ele renunciaria

se a Rainha da Inglaterra

tivesse em meus braços. Hei!




II. IN TABERNA




II. NA TABERNA

11. Estuans interius

Estuans interius

ira vehementi

in amaritudine

loquor mee menti:

factus de materia,

cinis elementi

similis sum folio,

de quo ludunt venti.

Cum sit enim proprium

viro sapienti

supra petram ponere

sedem fundamenti,

stultus ego comparor

fluvio labenti,

sub eodem tramite

nunquam permanenti.

Feror ego veluti

sine nauta navis,

ut per vias aeris

vaga fertur avis;

non me tenent vincula,

non me tenet clavis,

quero mihi similes

et adiungor pravis.

Mihi cordis gravitas

res videtur gravis;

iocis est amabilis

dulciorque favis;

quicquid Venus imperat,

labor est suavis,

que nunquam in cordibus

habitat ignavis.

Via lata gradior

more iuventutis

inplicor et vitiis

immemor virtutis,

voluptatis avidus

magis quam salutis,

mortuus in anima

curam gero cutis.

11. Queimando por dentro

Queimando por dentro

com veemente ira,

na amargura,

falei para min mesmo:

feito de matéria,

da cinza dos elementos,

sou com a folha

com quem brincam os ventos.

Se é este o caminho

do homem sábio,

construir sobre a pedra

as fundações da casa,

então sou um louco comparável

ao rio que corre,

eu que em seu curso

nunca se altera

Sou levado

como um navio sem piloto,

como através do ar

um pássaro a deriva;

nenhum vinculo me prende,

nenhuma chave me aprisiona,

busco meus semelhantes,

e me junto aos insensatos.

Meu coração pesado

é um fardo para mim;

o divertir-se é agradável

e mais doce que o favo de mel;

onde quer que Vênus impere,

o trabalho suave,

ela nunca habita

em corações indolentes

Meu caminho é amplo

como o quer minha juventude,

entrego-me aos meus vícios,

esquecido das virtudes,

mais ávido de volúpias

do que de salvação,

morta minh’alma

só minha pele me importa.

12. Olim lacus colueram

Olim lacus colueram,

olim pulcher extiteram,

dum cignus ego fueram.

Miser, miser!

modo niger

et ustus fortiter!

Girat, regirat garcifer;

me rogus urit fortiter;

propinat me nunc dapifer,

Miser, miser!

modo niger

et ustus fortiter!

Nunc in scutella iaceo,

et volitare nequeo

dentes frendentes video.

Miser, miser!

modo niger

et ustus fortiter!

12. Um dia morei no lago

Um dia morei no lago,

um dia fui belo,

quando eu era um cisne.

Ai de mim, ai de mim!

Agora negro

e completamente assado

Gira e gira o assador;

estou queimado completamente na pira:

o garçom agora me serve.

Ai de mim, ai de mim!

Agora negro

e completamente assado

Agora repouso em um prato,

e não posso mais voar.

vejo dentes rangendo

Ai de mim, ai de mim!

Agora negro

e completamente assado

13. Ego sum abbas

Ego sum abbas Cucaniensis

et consilium meum est cum bibulis,

et in secta Decii voluntas mea est,

et qui mane me quesierit in taberna,

post vesperam nudus egredietur,

et sic denudatus veste clamabit:

Wafna, wafna!

quid fecisti sors turpassi

Nostre vite gaudia

abstulisti omnia!

Haha!

13. Sou o abade

Sou o abade Cucaniense,

meu concilio é com os bebedores,

e quero pertencer à seita de Décio.

e quem me procurar de manha na taberna,

a noite será deixado nu,

e assim despojado de suas vestes gritará:

Aí de mim! Aí de mim!

que fizestes, ó execrável sorte?

nos tomastes da vida

todos os prazeres!

Haha!

14. In taberna quando sumus

In taberna quando sumus

non curamus quid sit humus,

sed ad ludum properamus,

cui semper insudamus.

Quid agatur in taberna

ubi nummus est pincerna,

hoc est opus ut queratur,

si quid loquar, audiatur.

Quidam ludunt, quidam bibunt,

quidam indiscrete vivunt.

Sed in ludo qui morantur,

ex his quidam denudantur

quidam ibi vestiuntur,

quidam saccis induuntur.

Ibi nullus timet mortem,

sed pro Baccho mittunt sortem.

Primo pro nummata vini,

ex hac bibunt libertini;

semel bibunt pro captivis,

post hec bibunt ter pro vivis,

quater pro Christianis cunctis,

quinquies pro fidelibus defunctis,

sexies pro sororibus vanis,

septies pro militibus silvanis.

Octies pro fratribus perversis,

nonies pro monachis dispersis,

decies pro navigantibus

undecies pro discordaniibus,

duodecies pro penitentibus,

tredecies pro iter agentibus.

Tam pro papa quam pro rege

bibunt omnes sine lege.

Bibit hera, bibit herus,

bibit miles, bibit clerus,

bibit ille, bibit illa,

bibit servis cum ancilla,

bibit velox, bibit piger,

bibit albus, bibit niger,

bibit constans, bibit vagus,

bibit rudis, bibit magnus,

Bibit pauper et egrotus,

bibit exul et ignotus,

bibit puer, bibit canus,

bibit presul et decanus,

bibit soror, bibit frater,

bibit anus, bibit mater,

bibit ista, bibit ille,

bibunt centum, bibunt mille.

Parum sexcente nummate

durant, cum immoderate

bibunt omnes sine meta.

Quamvis bibant mente leta,

sic nos rodunt omnes gentes

et sic erimus egentes.

Qui nos rodunt confundantur

et cum iustis non scribantur.

Io io io io io io io io io io!

14. Quando estamos na taberna

Quando estamos na taberna,

não pensamos na morte,

corremos a jogar,

o que nos faz sempre suar.

O que se passa na taberna,

onde o dinheiro é hospedeiro,

podeis querer saber,

escutais pois o que eu digo.

Uns jogam, uns bebem;

uns vivem licenciosamente.

mas dos que jogam,

uns ficam em pelo,

uns ganham aqui suas roupas,

uns se vestem com sacos.

Aqui ninguém teme a morte,

mas todos jogam por Baco.

Primeiro ao mercador de vinho,

é que bebem os libertinos;

uma vez aos prisioneiros,

depois bebem três vezes aos vivos,

quatro a todos os cristãos,

cinco aos fiéis defuntos,

seis às irmãs perdidas,

sete aos guardas florestais.

Oito aos irmãos desgarrados,

nove aos monges errantes,

dez aos navegantes,

onze aos brigões,

doze aos penitentes,

treze aos viajantes.

Tanto ao Papa quanto ao Rei

bebem todos sem lei.

Bebe a amante, bebe o senhor,

bebe o soldado, bebe o clérigo.

Bebe ele, bebe ela,

bebe o servo com a serva,

bebe o esperto, bebe o preguiçoso,

bebe o branco, bebe o negro,

bebe o sedentário, bebe o nômade,

bebe o estúpido, bebe o douto,

Bebem o pobre e o doente,

bebem o estrangeiro e o desconhecido.

bebe a criança, bebe o velho,

bebem o prelado e o diácono,

bebe a irmã, bebe o irmão,

bebe a anciã, bebe a mãe,

bebe este, bebe aquele,

bebem cem, bebem mil.

Seiscentas moedas não são suficientes,

se todos bebem imoderadamente

sem freio.

bebam quanto for, o espírito alegre,

Todo mundo nos denigre,

e assim ficamos desprovidos.

Que sejam confundidos os que nos difamem

e sejam seus nomes riscados do livro dos justos

Io io io io io io io io io io!





III. COUR D'AMOURS




III. CORTE DE AMORES

15. Amor volat undique

Amor volat undique,

captus est libidine.

Iuvenes, iuvencule

coniunguntur merito.

Siqua sine socio,

caret omni gaudio;

tenet noctis infima

sub intimo

cordis in custodia;

fit res amarissima.

15. O amor voa por toda parte

O amor voa por toda parte,

prisioneiros do desejo.

Rapazes, raparigas

unem-se como devem.

Se a jovem não tem parceiro,

desaparece-lhe toda a alegria;

ela mantém a noite escura

escondida

em seu coração:

é um sorte muito amarga

16. Dies, nox et omnia

Dies, nox et omnia

michi sunt contraria,

virginum colloquia

me fay planszer,

oy suvenz suspirer,

plu me fay temer.

O sodales, ludite,

vos qui scitis dicite

michi mesto parcite,

grand ey dolur,

attamen consulite

per voster honur.

Tua pulchra facies

me fay planszer milies,

pectus habet glacies.

A remender

statim vivus fierem

per un baser.

16. Dia, noite e tudo

Dia, noite e tudo

me são contrários,

a tagarelice das virgens

me faz chorar,

e com freqüência suspirar,

e mais me faz temer.

Ó amigos, estais brincando,

não sabeis o que dizeis,

a mim, infeliz, poupai,

grande é a minha dor,

aconselhai-me por fim

por vossa honra.

Teu belo rosto

me faz versar mil prantos,

tens o coração de gelo.

Como remédio,

serei ressuscitado

por um beijo.

17. Stetit puella

Stetit puella

rufa tunica;

si quis eam tetigit,

tunica crepuit.

Eia!

Stetit puella

tamquam rosula;

facie splenduit,

os eius fioruit.

Eia!

17. Era uma menina

Era uma menina

com uma túnica vermelha;

se alguém tocasse nela,

a túnica farfalhava.

Eia!

Era uma menina

Como uma rosinha;

Sua face resplandescia

E tinha os lábios em flor.

Eia!

18. Circa mea pectora

Circa mea pectora

multa sunt suspiria

de tua pulchritudine,

que me ledunt misere. Ah!

Mandaliet,

Mandaliet

min geselle

chõmet niet.

Tui lucent oculi

sicut solis radii,

sicut splendor fulguris

lucem donat tenebris. Ah!

Mandaliet

Mandaliet,

min geselle

chõmet niet.

Vellet deus, vallent dii

Quod mente proposui:

ut eius virginea

reserassem vincula. Ah!

Mandaliet,

Mandaliet,

Min geselle

Chõmet niet.

18. Em meu peito

Em meu peito

Estão muitos suspiros

Por tua beleza,

Que me faz voluptuoso. Ah!

Mandaliet,

Mandaliet,

Meu amor

não vem.

Teus olhos brilham

como raios de sol,

como o esplendor do raio

que ilumina as trevas. Ah!

Mandaliet,

Mandaliet,

Meu amor

não vem.

Queira Deus, queiram os deuses,

aplacar meu desejo:

que eu possa romper

as cadeias da sua virgindade. Ah!

Mandaliet,

Mandaliet,

Meu amor

não vem.

19. Si puer cum puellula

Si puer cum puellula

Moraretur in cellula,

Felix coniunctio.

Amore suscrescente

Pariter e medio

Avulso procul tedio,

fit ludus ineffabilis

membris, lacertis, labii.

19. Se um menino com um menina

Se um menino com um menina

se encontram em um quarto.

o casamento é feliz.

O amor avulta,

e entre eles

a vergonha é posta de lado

e tem inicio um jogo inefável

em seus membros, braços e lábios.

20. Veni, veni, venias

Veni, veni, venias,

ne me mori facias,

hyrca, hyrce, nazaza,

trillirivos...

Pulchra tibi facies

oculorum acies,

capillorum series,

o quam clara species!

Rosa rubicundior,

lilio candidior,

omnibus formosior,

semper in te glorior!

20. Vem, vem, ó vem

Vem, vem, ó vem,

não me faças morrer.

hyrca, hyrce, nazaza,

trillirivos...

Teu belo rosto,

teus olhos brilhantes,

teu cabelo trançado,

que gloriosa criatura!

Mais rubra que a rosa,

mais branca que o lírio,

mais bela que qualquer outra,

sempre em ti glorificarei.

21. In truitina

In truitina mentis dubia

fluctuant contraria

lascivus amor et pudicitia.

Sed eligo quod video,

collum iugo prebeo;

ad iugum tamen suave transeo.

21. Na balança

Na balança os sentimentos oscilam

Um contra o outro;

Amor lascivo e pudor.

Mas escolho o que vejo,

E coloco meu pescoço sob o jugo;

Ao jogo suave todavia me submeto.

22. Tempus es iocundum

Tempus es iocundum

o virgines,

modo congaudete

vos iuvenes!

Oh, oh, oh!

totus floreo,

iam amore virginali totus ardeo!

novus, novus amor est, quo pereo!

Mea me confortat

promissio,

mea me deportat

negatio.

Oh, oh, oh

totus floreo

iam amore virginali totus ardeo!

novus, novus amor est, quo pereo!

Tempore brumali

vir patiens,

animo vernali

lasciviens.

Oh, oh, oh,

totus floreo,

iam amore virginali totus ardeo!

novus, novus amor est, quo pereo!

Mea mecum ludit

virginitas,

mea me detrudit

simplicitas.

Oh, oh, oh,

totus floreo,

iam amore virginali totus ardeo!

novus, novus amor est, quo pereo!

Veni, domicella,

cum gaudio,

veni, veni, pulchra,

iam pereo!

Oh, oh, oh,

totus floreo,

iam amore virginali totus ardeo!

novus, novus amor est, quo pereo!

22. O tempo é de alegria

O tempo é de alegria,

Ó virgens,

vinde divertir-vos,

ó rapazes!

Oh, oh, oh!

floresço inteiro!

ardo todo de um amor virginal!

novo, novo amor é o que me faz perecer!

Minha promessa

me conforta,

minha recusa

me desola.

Oh, oh, oh!

floresço inteiro!

ardo todo de um amor virginal!

novo, novo amor é o que me faz perecer!

No tempo das brumas

o homem é paciente,

o sopro da primavera

o torna lascivo.

Oh, oh, oh!

floresço inteiro!

ardo todo de um amor virginal!

novo, novo amor é o que me faz perecer!

Minha virgindade

brinca comigo

minha simplicidade

me preserva.

Oh, oh, oh!

floresço inteiro!

ardo todo de um amor virginal!

novo, novo amor é o que me faz perecer!

Vem, amante,

com alegria

vem, vem, linda.

estou morrendo!

Oh, oh, oh!

floresço inteiro!

ardo todo de um amor virginal!

Novo, novo amor é o que me faz perecer!

23. Dulcissime

Dulcissime,Ah!

totam tibi subdo me!

23. Amor querido

Amor querido. Ah!

Me entrego toda a ti!




BLANZIFLOR ET HELENA

BLANCHEFLEUR[2] E HELENA

24. Ave formosissima

Ave formosissima,

Gemma pretiosa,

ave decus virginum,

virgo gloriosa,

ave mundi luminar,

ave mundi rosa,

Blanziflor et Helena,

Venus generosa!

24. Salve formosíssima

Salve, formosíssima,

Jóia preciosa,

Salve, orgulho das virgens,

Virgem gloriosa,

Salve, luz do mundo,

Salve, rosa do mundo

Blanchefleur e Helena,

Generosa Vênus!





FORTUNA IMPERATRIX MUNDI




FORTUNA IMPERATRIZ DO MUNDO

25. O Fortuna

O Fortuna

velut luna

statu variabilis,

semper crescis

aut decrescis.

vita detestabilis,

nunc obdurat

et tunc curat;

ludo mentis aciem,

egestatem,

potestatem

dissolvit ut glaciem.

Sors immanis

et inanis,

rota tu volubilis,

status malus,

vana salus

semper dissolubilis,

obumbrata

et velata

michi quoque niteris;

nunc per ludum

dorsum nudum

fero tui sceleris.

Sors salutis

et virtutis

michi nunc contraria,

est affectus

et defectus

semper in angaria.

Hac in hora

sine mora

corde pulsum tangite;

quod per sortem

sternit fortem,

mecum omnes plangite!

25. Ó Fortuna

Ó Fortuna

és como a Lua

mutável,

sempre aumentas

e diminuis;

a detestável vida

ore escurece

e ora clareia

por brincadeira a mente;

miséria,

poder,

ela os funde como gelo.

Sorte monstruosa

e vazia,

tu – roda volúvel –

és má,

vã é a felicidade

sempre dissolúvel,

nebulosa

e velada

também a min contagias;

agora por brincadeira

o dorso nu

entrego à tua perversidade.

A sorte na saúde

e virtude

agora me é contrária.

da

e tira

mantendo sempre escravizado.

nesta hora

sem demora

tange a corda vibrante;

porque a sorte

abate o forte,

chorais todos comigo!

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