segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lâminas entrelaçadas dão forma ao Teatro de Dança



maquete


A balança do bairro da Luz, que às vezes pende com estardalhaço para a Cracolândia - região degradada pela venda e consumo de drogas em pleno centro de São Paulo -, pode ganhar mais um contrapeso caso se concretize a intenção da Secretaria da Cultura estadual de implantar o
Complexo Cultural Teatro de Dança no terreno onde funcionou durante anos a principal rodoviária paulistana.
Projetado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, ele vai somar esforços com o Museu da Língua Portuguesa, de Paulo Mendes da Rocha, e a Sala São Paulo, de Nelson Dupré, na proposta de fazer da cultura um dos focos de estímulo para a revitalização da área.


implantacao


entorno

No início de julho foi divulgado o estudo preliminar preparado pelo escritório Herzog & De Meuron, contratado pela secretaria.

Apenas uma praça vai separar o edifício da Estação Júlio Prestes - projetado por Christiano Stockler das Neves e no qual há dez anos Dupré inseriu a Sala São Paulo - do complexo cultural que, segundo a secretaria, vai colocar São Paulo definitivamente na rota

dos grandes projetos de arquitetura internacional.

Segundo o órgão paulista, a convocação de Herzog & De Meuron, contratado por notória especialização, entre outros motivos, ocorreu depois de a empresa inglesa TPC Theatre Projects Consultants, também a convite da secretaria, ter definido o perfil do futuro complexo e detalhado o programa de cada item.

Seus técnicos estudaram e analisaram a cidade para dimensionar um teatro de características únicas.

A partir desse estudo, a secretaria selecionou escritórios internacionais de arquitetos que poderiam se interessar em desenvolver o projeto:

o inglês Norman Foster, o argentino radicado nos EUA Cesar Pelli, o holandês Rem Koolhaas e a dupla suíça.

“Queríamos provocar um escândalo na arquitetura brasileira.

No bom sentido”,

provoca o secretário da Cultura, João Sayad.

Mesmo detentores do Pritzker, Oscar Niemeyer e Mendes da Rocha foram descartados, segundo Sayad, por já terem outros projetos na cidade.

Na avaliação do secretário, a arquitetura de Foster, Pelli e Koolhaas torna seus projetos facilmente reconhecíveis em qualquer parte do mundo, enquanto a de Herzog & De Meuron revela-se sempre inovadora, invulgar.

A decisão provocou, se não escândalo, pelo menos um choque no meio arquitetônico paulista.

De um lado, alguns defenderam a contratação dos suíços, pelos antecedentes de sua admirada arquitetura.

Outros, contrariados, contestaram não o trabalho dos arquitetos escolhidos, mas a forma de escolha, argumentando que seria mais justa a realização de um concurso internacional.

Com o caderno do estudo preliminar do TPC nas mãos, Sayad aponta, bem-humorado, a planta de uma das salas e diz:

“Aqui vai ficar o camarote do secretário”.

Para chegar a ele, Sayad - ou seu eventual sucessor - terá apenas que atravessar a praça Júlio Prestes (a sede da secretaria fica no edifício que também abriga a Sala São Paulo) e percorrer a rampa que demarca a entrada principal do complexo.

A partir do lobby, poderá se dirigir a um das dezenas de ambientes, que se distribuirão por aproximadamente 95 mil metros quadrados de área construída.

Entre outros, o conjunto contará com três teatros:

um para dança e ópera, com 1.750 lugares;

outro destinado a teatro e recitais, para 600 espectadores;

e uma sala experimental, de 450 lugares.


O conceito intrínseco ao projeto de Herzog & De Meuron foi mesclar e combinar o máximo de atividades possível, transpondo para o edifício a dinâmica da metrópole paulistana.

O conjunto possui quatro pavimentos (e altura média de 23 metros), dos quais não se consegue fazer uma leitura externa linear nem definir uma hierarquia entre as fachadas.

Uma abordagem possível é a de uma praça suspensa, composta por um jogo de lâminas entrelaçadas nos dois sentidos, que se integra às áreas verdes que a dupla propõe para o entorno.

A quadra abrangida pela intervenção é formada pela praça Júlio Prestes e trechos da rua Helvétia e das avenidas Rio Branco e Duque de Caxias. “Nosso objetivo é criar um espaço cultural bem localizado e de fácil acesso à população, próximo das linhas de metrô e trem. São Paulo merece um grande marco arquitetônico e esse complexo desempenhará tal papel”, avalia Sayad.

Os recursos estimados pelo Estado para a construção do complexo são de 300 milhões de reais, parte dos quais se pretende obter por meio de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Herzog & De Meuron devem receber por seu trabalho cerca de 8,5% desse total, o que representa quase 26 milhões.

A secretaria prevê que a licitação para dar início à obra seja realizada no segundo semestre de 2010.


montagem


Teatro de dança e ópera - térreo Teatro de dança e ópera - 1º balcão


Teatro de dança e ópera - térreo Teatro de dança e ópera - 1º balcão


Sala experimental Corte do teatro de dança e ópera


Sala experimental Corte do teatro de dança e Ópera




“Nossa contribuição é positiva para a arquitetura”



Consolidar a Luz, região central de São Paulo, como o mais importante polo cultural da América Latina é a intenção da Secretaria da Cultura, e o Complexo Cultural Teatro de Dança, a ser construído na área da antiga rodoviária, é uma peça importante nesse processo.

Essa é a avaliação do secretário da Cultura João Sayad, que explicou a PROJETO DESIGN por que o projeto de Herzog & De Meuron foi escolhido.

Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 354 Agosto de 2009



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